quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

BLOU! BLOU! BLOU!

Eu quando era mais novo, sempre pensei que cada vez menos veríamos na nossa terra, teenagers como haviam no meu tempo. Pensava que o teenager que não fala micaelense à bruta, que não diz só conversas sem conteúdo e vazias, que soubesse comportar-se como numa sociedade normal, que já tivesse alguma noção do ridículo em que cai, que tem um pouco noção dos sítios onde está, que tem algum cuidado com a sua imagem(e a dos pais) que passa, que tivesse ambições reais, que o melhor que consegue para passar por adulto não fosse exibir a cerveja que bebe ou o cigarro que fuma, enfim, que a nova geração de teenagers micaelenses viesse a substituir cada vez mais essa geração de teenagers de comportamento triste. Em parte assim aconteceu. Mas, para meu desagrado, não tanto quanto desejável.


Estava eu a tomar um café numa esplanada e um grupo de 5 teenagers, três raparigas com roupa e penteados estranhos e dois rapazes plenos de acne, estavam a, sensivelmente, cinco mesas de distância. Visto termos dias de sol muito invulgares para esta altura do ano, devo dizer que prái 75% das mesas estavam ocupadas. Estamos a falar de pessoas de todas as idades, inclusive pessoas idosas ou pais com crianças. Apesar de haver algum ruído por haverem uma quantas pessoas, estranhamente todos conseguiam ouvir o que vinha da mesa dos teenagers. Penso que falavam alto por naturalmente falarem assim no seu dia a dia, mas também parecia ser um pouco por show-off, por rebeldia quase. Algumas coisas que diziam, não consegui perceber. Não porque tivessem abaixado o volume da voz, mas porque o sotaque era tão bruto, que muitas vezes eu pensava que estavam usando um dialecto francês qualquer que eu desconhecia. O que eu não conseguia perceber, vou escrever como aquilo a que me soava. Ou seja, "Blou, Blou, Blou".


O tema de conversa, escusado será dizer, que era do mais estúpido, vazio, desconfortável, ridículo, absurdo possível. Deviam rondar os 14 ou 15 anos de idade, e uma das meninas falava de como gostava de fazer felácios(embora não nestes termos) ao que todos riam descontrolávelmente. As amigas fizeram questão de lançar o comentário pertinente de que, apesar de início terem algum nojo, especialmente se apanhassem com substâncias, agora também gostavam. Ao que nova gargalhada se seguiu. Um dos rapazes disse então "Blou, Blou, Blou! Yah! Blou, Blou...uma vez, Blou, Blou, Blou, no dia a seguir fiquei cheio de dores no Car...". Gargalhada geral. É compreensível que em todas as outras mesas as pessoas começavam a ajeitar-se desconfortávelmente nas suas cadeiras. Outra das meninas fez questão de salientar o seu desagrado com sexo anal, dizendo "Blou, Blou, Blou...eu não levo no @# que não sou pane#€&ra!". Ponto de vista curioso, este. Risada descomunal. 

Mas eis que se fez alguma justiça. Todos bebiam cerveja e fumavam e era impressionante o número de vezes que mexiam no telemóvel. Ora, eis que graças a esta tentativa de tentarem parecer adultos bebendo cerveja, um dos putos do nada começou a regurgitar. Em segundos este estava pálido como não sei o quê e todos daquela mesa começaram certamente a perceber o estúpidos que pareciam. Mas, o melhor estava para vir e o timing não podia ser mais ideal. Enquanto este jovem se recompunha, na sua direcção vinha uma senhora de meia-idade em passo apressado. Ao chegar lá, esta cumprimentou-o com um belo tabefe na cara, e puxou-o pelo colarinho levando-o consigo. Este começou a chorar como se de novo tivesse 5 anos, seguindo a sua mãe bem comportadinho e envergonhadíssimo, enquanto esta ia lhe avisando em alto e bom som, "Quando teu pai chegar, vais ver o que é bom!".
Apesar da maioria daquela mesa ter acne na cara, era possível mesmo assim perceber que a maioria estava corando e com vergonha da situação parva em que estavam. Rapidamente foram embora, cabisbaixos e algo preocupados. Porquê? Porque a mãe do puto fez questão de que soubessem que os pais deles iriam saber daquilo também.


Felizmente, o nível de teenagers micaelenses, na sua maioria hoje em dia, já não é deste nível. Mas ainda existem muuuuiiitos assim. Por isso, tenham cuidado. Nunca se sabe quando a vossa mamã irá vir por trás com as palmas das mãos em fúria.

Minha namorada diz, que embora gostasse de voltar a ser mais nova, detestaria voltar a ser teenager. Julgo que ela o diz, baseando nas figuras tristes que se vê em muitos destes rebentos e de como seria difícil identificarmo-nos com eles. Eu devo dizer, que apesar de já haver muitos com cabecinha, mesmo assim, ela tem toda, absoluta, e completa razão.

2 comentários:

  1. Eh, tão bem feito! Adorava ter visto a cena do chapadão! Foi mesmo bem pregado! Ele deve ter-se sentido super envergonhado por ter sido à frente dos amigos e isso é o que me dá ainda mais gozo!
    Sabes, penso exactamente da mesma maneira que a M.- tenho um ódiozinho de estimação por adolescentes e não queria voltar a fazer as mesmas figuras. Às vezes vejo cada coisa que me pergunto: "Eu era assim aos 15 anos?!".
    Ao contrário do que tu pensas, eu acho que os adolescentes de hoje são muuuuuuuuuito piores do que nós fomos. Mas uns 10 níveis acima. Na nossa altura, nós tínhamos medo de consumir álcool ou fumar em público, não fosse alguém conhecido ver e ir contar aos nossos pais.
    Hoje em dia, eles não só bebem e fumam em público, como andam a namorar na rua ou em jardins, ora deitados, ora escanchados um no outro. Vejo isso junto ao meu escritório. Vejo isso na escola onde dou aulas. E as conversas deles? Não têm um pingo de vergonha de falar em sexo oral e anal em público? Pior... admitir que o praticam!!! Sabes o que me choca? Cada vez mais iniciam a vida sexual mais cedo. Em idades em que ainda deviam estar a brincar com legos e com Barbies. As minhas alunas têm idades compreendidas entre os 16 e os 20 anos. Tenho 15 alunas. E são todas sexualmente activas. O pior é que não é uma sexualidade responsável e consciente... Ora, lê isto aqui: http://descomplicometro.blogspot.com/2011/09/quem-fala-assim-nao-e-gago.html

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    1. Levantas um bom ponto. És capaz de ter razão quando dizes que os de hoje são piores do que no nosso tempo. Sinceramente, não sei. Também acho é que os com cabecinha de hoje são muito mais à frente do que os que com cabecinha da nossa altura, por isso talvez eu tenha ficado com impressão de que não há tantos teenagers parvos e tristes como no nosso tempo. Mas, parece-me que és capaz de ter razão, pensando melhor no assunto.
      Havias de estar lá, foi mesmo perfeito. Vou ler o teu artigo e comento lá.

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