quarta-feira, 23 de maio de 2012

PENSAMENTOS SOBRE A RTP AÇORES 1 DE 3 - BLOCOS NOTICIOSOS

Este é o primeiro de 3 posts que farei sobre coisas em que tenho pensado sobre a RTP Açores e assuntos relacionados com a mesma. Neste primeiro falarei dos noticiários da RTP Açores, no segundo falarei sobre o actual estado do canal e no que a RTP Açores poderia ter sido (e não foi), e no terceiro a minha opinião sobre a onda que anda no Facebook de "Salvem o Bom Dia Açores".
Poderá haver muita discórdia das minhas opiniões e são livres de debaterem o tema por aqui comigo que terei o maior prazer em ter o vosso feedback.

E bem, vamos a isso... Ai, ai... Os noticiários da RTP Açores....

Vejamos quase todos os blocos noticiosos de quase todos os canais de quase todo o Mundo. Eles apresentam-nos notícias, além de reportagens, trabalhos de investigação, inquéritos/opiniões de rua, etc.
O que é que nos dão os blocos noticiosos da RTP Açores? Eles dão-nos notícias e.... e é só.

Eis o meu problema com os blocos noticiosos da RTP A. Desafio-vos a ver um, num dia qualquer. Todas, mas todas as notícias, são de eventos (políticos, sociais, desportivos, culturais, etc.), conferências, inaugurações, palestras, julgamentos, e por aí fora.
Alguém se lembra da última vez que um bloco noticioso da RTP Açores teve um exclusivo jornalístico?! Um furo?! Uma reportagem?! Um trabalho de investigação?! Uma notícia que foi apresentada graças ao trabalho de investigação ou iniciativa própria de um dos seus jornalista, em vez de algo para onde eles foram chamados?! Um inquérito realizado pela RTP Açores?! É que eu sinceramente, não.

Um jornalista de um canal (e não só), trabalha para ter uma notícia, para uma reportagem, para um trabalho de investigação, para um exclusivo, etc. Já um jornalista da RTP Açores gasta gasolina e gasóleo para ir onde é chamado, com sorte enfia duas perguntas de rotina lá e... e é só.





Não se vê naqueles noticiários uma peça que não seja sobre algo para onde foram chamados os jornalistas, ou para onde é sabido que haverá algo, ou então vão a um sítio reportar algo que foi reportado na imprensa escrita primeiro. Não há uma peça que tenha sido originada graças ao instinto ou iniciativa própria de um jornalista. No Bom Dia vemos um pouco disso e é uma excepção, em especial de assuntos culturais, religiosos ou eventos, de entrevista a organizadores e não só, etc. Nisso, darei mérito ao Bom Dia, apesar de sabermos que algumas destas reportagens poderiam ser mais reduzidas e vê-se que estão a tentar "encher chouriços" por vezes para atingir a quota horária diária do programa. Sim, sabemos que há muita conversa de chacha para queimar tempo. Sim, sabemos que há reportagens lá que se tornam maçadoras e repetitivas. Isso tudo também terei em atenção quando escrever sobre o post do Bom Dia. Mas mesmo assim, faz algo de sua iniciativa e diferente. Claro que também a maioria que vai lá, são pessoas que abordaram o próprio Bom Dia para falarem sobre algo que querem promover, mas ao menos dão algo diferente (goste-se ou não) e fazem o que é suposto a RTP Açores fazer: SERVIÇO PÚBLICO!
Mas mesmo assim, é pouco, e muitas vezes, mau. Mas continuemos com os blocos noticiosos e não o Bom Dia.

Em todos os noticiários da televisão portuguesa, ocasionalmente temos trabalhos e peças criadas pelos próprios repórteres, pela sua própria iniciativa ou por iniciativa da chefia editorial. Na RTP Açores, nada me vem à memória que seja similar. Nada mesmo.




Exemplos. Para os exemplos, usarei o número 1 para noticiários da televisão portuguesa em geral,  para o 2 usarei os blocos noticiosos da RTP Açores, para o 2a) usarei o que poderia/deveria ser feito nos blocos informativos do nosso canal. E antes disso, fiquem sabendo de algo, RTP Açores: Há sempre alguém que está disposto a falar para vós. Nem que seja um, há sempre alguém que o fará se os abordarem.

(Exemplo A)
1 - Temos uma reportagem curta sobre tráfico de droga em bairros desfavorecidos e como isso afecta os moradores, temos entrevistas corajosas a traficantes ou consumidores com rostos pixelizados e vozes distorcidas, temos a perspectiva da Polícia, da Câmara ou Junta, entidades governamentais como assistentes da Segurança Social, etc.

2 - Nada.
2a) - Todos sabemos bem como eram as coisas há 15 anos por cá e como são agora. Toda a gente sabe onde na sua freguesia(e, infelizmente, são em todas as freguesias hoje em dia. Nenhuma escapa, desde as 7 Cidades até ao Nordeste) estão localizados os consumidores ou passadores. Um jornalista ou repórter com um pingo de iniciativa própria, caso queira fazer o mesmo trabalho jornalístico por cá, seria a coisa mais fácil do Mundo. Mas não o fazem. Vão a uma freguesia qualquer, mas qualquer uma mesmo, e interroguem as pessoas. Rapidamente vão indicar-vos um consumidor ou passador ou traficante. Abordem esses consumidores ou passadores. Peçam para falar com eles, receberem a sua perspectiva, protejam as suas identidades se necessário. Depois falem com o presidente de Junta dessa freguesia sobre essa situação. Falem com os moradores. Falem com a Polícia. Falem com a Segurança Social.
Pronto. Têm um excelente trabalho noticioso, uma reportagem interessante, nada difícil e de pouco trabalho.

(Exemplo B)
1 - Temos uma reportagem sobre aumento da prostituição em determinada zona ou então sobre emigrantes a trabalharem em Portugal em casas de alterne, ilegalidades e não só.

2 - De novo, nada. Aparentemente, vivemos numa Região purista.
2a) - Não acredito que não haja um jornalista ou chefe de redacção da RTP Açores que não saiba o que se passa pela Calheta. É que até no Nordeste sabem bem o que se passa. De novo, vão lá. Abordem quem lá anda a prostituir-se. De novo, protejam a identidade, se necessário. Vejam o que levou algumas daquelas pessoas àquilo. Falem com os moradores daquela zona e informem-se do transtorno que lhes causa o que se passa à frente das suas portas. Como a zona onde esses moradores residem ficou com péssima fama, como é constragedor ter de passar por ali, como é triste que onde moram, onde têm as suas casas, as suas vidas, encontram algo deplorável olhando pela janela afora. Mais uma vez, abordem a Polícia para ver a perspectiva deles, abordem entidades municipais ou governativas, falem com sociólogos, etc. E as casas de alterne e quem lá trabalha? De novo, vão a essas casas, tentem falar com proprietários, abordem as senhoras, protejam as suas identidades, vasculhem o que ganham e se retribuem de alguma forma para as nossas contas públicas, se pagam impostos, etc. Tentem saber o que levou algumas delas a esta vida. Porque não pedem aos vossos colegas da imprensa escrita o contacto de algumas delas? Assim como assim, eles publicitam-nas! O que as fez vir de outro país para cá e acabar nesse estilo de vida, foi só o dinheiro fácil ou houveram outros factores para acabarem assim? Falem com sociólogos, com o Serviço Nacional de Estrangeiros e Fronteiras para saber que escrutínio e fiscalização andam a ser feitas, etc.
De novo, um trabalho de reportagem, de investigação jornalística, com um pingo de iniciativa e algum trabalho para além de conduzir para onde foram chamados ou para onde foram mandados.

(Exemplo C)
1 - (1)São reveladas suspeitas de abuso de poder político (Freeports e afins), (2)licenciaturas suspeitas (Sócrates), (3)fraudes bancárias e ineptitude do Banco de Portugal em fiscalizar devidamente os mesmos, (4)falou-se de pressões políticas feitas a Media (Público, Sol, etc.), (5)interroga-se sobre viabilidade de obras de grande valor (Novo Aeroporto de Lisboa, TGV, etc.).

2 - Praticamente nada, e quando é feito, não foi de vossa iniciativa. Morder a mão que vos morde? Claro que não... Aliás, quando o fizeram recentemente num caso menor, levaram logo aviso dos lordes...
2a) - Querem paralelos cá para todos estes exemplos em que um pouco de investigação (e coragem, além de integridade jornalística) poderia trazer coisas interessantes a lume? Pois bem.
(1) Será tão difícil quanto isso encontrar alguns casos de abuso político cá? Não me parece. Vejam bem  algumas obras grandes por cá, para quem foram distribuídas ao longo dos tempos. Vejam os laços familiares. Vejam os custos que são apresentados por alguns deputados nossos, inclusive eurodeputados. Já agora, vejam bem as declarações fiscais de alguns políticos nossos. Vejam cumplicidades entre Presidentes de Junta e alguns ramos comerciais. Vejam a baleia gorda que tem sido a Sata ao longo dos tempos. (2) Investiguem algumas licenciaturas ou doutoramentos que muitos indivíduos que desempenham funções públicas por cá, têm realmente. E já agora os filhos destes. A Universidade pode-vos dar essa informação, certamente. Especialmente os filhos. É que há muita boa gente que estudou, a muito esforço pessoal e da sua família, para ter qualificações necessárias para poder desempenhar funções, enquanto que outros, graças a laços familiares, ocuparam vagas que não mereciam e não estudaram para isso. Podem mesmo começar pelo topo... (3) É curioso como a Banca anda aflita, mas muitos sub-directores de Bancos e associados, parecem não estarem minimamente aflitos com isso. Antes pelo contrário. De novo, tenho muita curiosidade de ver as declarações fiscais de alguns e ver se apresentam todas as casas de férias, todos os carros, viagens, jantares e sei lá mais o quê. Chamem-lhe instinto jornalístico, se quiserem... (4) Bem, sobre isso não podem falar, pois queimariam muita gente ao longo dos anos que esteve por aí. (5) Já vos tinha dito para investigarem bem para quem certas obras foram entregues. Mas, além disso, alguém já foi interrogar-se sobre o estado do mítico Casino/shopping agora parado? Já agora, alguém lembrou-se de ir questionar quem ia ser empregado lá e tirou cursos e gastou dinheiro seu, para acabar não vendo um euro de volta? É que toda a gente sabe, com um pouco de trabalho jornalístico vocês também teriam conseguido reportar isso antes de esperarem que a imprensa escrita o fizesse.



Poderia enumerar mais mil e um exemplos, mas não o farei mais. Até a imprensa escrita de cá, sobre a qual também tenho MUIIIIITTAS críticas, faz mais do que vós nesse sentido. De reportagem, de iniciativa própria e jornalística, de investigação, de exclusivos, etc. E não só. Existem dias de notícias lentas, e eles aproveitam nestes dias para dar exposição a coisas que eles produziram por sua iniciativa. Por exemplo, num jornal escrito um dia desses, fizeram uma reportagem sobre um empresário que está a ter sucesso por cá nas suas estufas graças a uma técnica nova derivada do estudo de microbiologia. Um jornalista achou isso interessante, viu oportunidade de reportar isso, e apresentar este trabalho jornalístico num dia de notícias mais lento. Vocês também têm dias de notícias mais lentos, façam o mesmo! Trabalhem numa reportagem ou vão ao encontro de algo interessante em termos jornalísticos e usem-no em dias de notícias mais lento.

Não sei se a culpa é dos jornalistas dos blocos noticiosos da RTP Açores, ou dos chefes de redacção, ou de outros. Uma coisa é certa: Os vossos Telejornais apresentam trabalho preguiçoso. De apenas conduzir para onde são chamados, de por vezes reportar o que já foi reportado por outros, de ir apenas onde é sabido que haverá algo. Será que para ser jornalista, basta ter carta de condução?! E nem isso, pois às vezes são os câmeramen que conduzem.



Existem novos tempos na RTP Açores, difíceis, mas com uma direcção nova que me deixa algo confiante. Espero que algo seja feito também no trabalho jornalístico dos blocos noticiosos. De novo, também há muito a dizer de imprensa escrita por cá (como exemplo, hoje, Quarta-Feira, num jornal escrito apresentavam-nos a notícia super actual de que morreu um dos vocalistas dos Bee Gees. O problema?... Reportam-nos algo hoje que aconteceu Domingo, como eles próprios referem...), mas há mais iniciativa jornalística, trabalho jornalístico, por lá.
Se outros blocos noticiosos nos canais portugueses o fazem, porque não o fazem também por cá?! Como provei, não é por falta de assunto ou tema, certamente. Um pouco de iniciativa, é só o que é preciso.

De novo, acredito que hajam jornalistas talentosos na RTP Açores, que talvez não tenham oportunidades de  fazerem mais deste tipo de trabalho. Mas seja lá quem for o responsável, trabalho preguiçoso e antiquado, nos tempos de hoje é fatal.

Para o próximo post, falarei sobre a minha visão actual da RTP Açores, além da minha visão do que foi, poderia ter sido, e espero que possa ser.

Comentem, debatem, deêm a vossa opinião sobre este post dos blocos noticiosos da RTP Açores, que terei o maior prazer de debater e trocar ideias convosco.

E para que não pensem que estou mal disposto e chato, termino com um pouco de humor relacionado com o tema.
Cheers!





1 comentário:

  1. Façam uma investigação sobre a Co-inceneração que a AMISM e o Governo Regional, querem trazer para os Açores dizendo que é um forma de valorização de residuos, e uma forma de energia renovável...
    Pois, queimar plásticos e lixos industrias renováveis...

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