sexta-feira, 25 de maio de 2012

PENSAMENTOS SOBRE A RTP AÇORES 2 DE 3 - O QUE É, O QUE FOI, O QUE PODERIA TER SIDO, O QUE PODE SER AINDA

E vamos ao segundo post sobre o meu parecer de assuntos relacionados com a RTP Açores. Já dei a minha opinião sobre os blocos noticiosos da RTP Açores, irei dar a minha opinião sobre "salvem o Bom Dia Açores", mas, este agora será dedicado a pensamentos meus sobre o canal em si. E aí, poderão ficar algo surpreendidos com a minha opinião.
De novo, são as minhas opiniões. Quem concordar ou discordar, comente à vontade, que debate é sempre bem vindo no blog.

Ao contrário do que se pense, entristece-me muito que a RTP Açores tenha sido obrigada a reduzir as suas horas de transmissão. Com isto, o canal perderá ainda mais grande parte da sua autonomia, da sua independência, da sua liberdade criativa e financeira, da sua identidade. Aliás, da NOSSA identidade.

Sim, porque apesar de todas as falhas da RTP Açores desde a sua existência (e já vou tocar no assunto), ter o NOSSO canal É um símbolo da nossa identidade, da nossa região, da nossa autonomia. TODOS, mas TODOS nós ficamos seriamente fragilizados com essa mudança de paradigma que vem para o NOSSO canal.
Mas, já falarei mais disso. Para já, o que penso quando reflicto sobre o que tem sido a RTP Açores.



Quando penso no que foi a RTP Açores desde que me lembro dela até hoje, há algo que teima em não sair da minha cabeça: podia ter sido tanto, mas tanto mais do que foi...
Oportunidades Perdidas são as palavras-chave que persistem na minha visão.

Fiz o seguinte exercício, façam o mesmo. Conseguem enumerar-me 5 ou mais programas marcantes da RTP Açores desde a sua existência?
5 programas que fossem referência ainda hoje em dia, 5 programas que tivessem alguma notoriedade, 5 programas que tivessem alguma exposição e notoriedade nacional (já nem digo internacional que isso já é muito difícil, mesmo para os canais grandes de Portugal), 5 programas que toda a gente com algum bom gosto chamaria de excelentes programas, 5 programas que fossem um bom retrato da nossa criatividade, imaginação, talento, inteligência, cultura, de boa Função Pública, seja o que for...

Muitos talvez dirão o Bom Dia. O.k., posso aceitar esta resposta como válida, embora tenha as minhas discórdias. Mas, e mais.
É difícil.
E cheguei a uma conclusão do porquê. Porque o nosso canal, durante a sua existência, arriscou sempre muito, muito pouco. Nasceu num formato de padrões antiquados de fazer t.v. e continuou assim.
E mesmo quando arriscou um pouco, rapidamente caiu no esquecimento, quer por qualidade insuficiente, que por ter saído rapidamente do ar(por audiências ou decisão editorial), quer por apenas não ter sido marcante na consciência social. Se eu disser as palavras "O Barco e o Sonho", "Xailes negros", e outros, para muitos de vós isso não quer dizer nada. Para outros, os da minha geração, trará lembranças muito, muito ténues, e provavelmente já não pensavam nesses programas há anos até agora. "Ilhas de Bruma" não foi apenas uma canção, pessoal mais jovem.



Para terem uma ideia, eu não consigo lembrar-me do nome do programa que mais marcou-me da RTP Açores!!! Isso é grave e diz muito!! E já agora, se alguém se lembrar diga nos comentários que isto está a deixar-me louco da cabeça! Lembro-me de na minha infância vermos com regularidade um programa que era semanal, onde no fim mostravam bloopers do pessoal da RTP A., inclusive clipes deliciosos do Pedro Moura a praguejar como um marinheiro, a Laura Lobão a fazer gaffes no noticiário, a Teresa Nóbrega desatenta quando a emissão já estava no ar, o Carlos Tomé a falar com o câmeraman sobre algo estranho em pleno programa. Pessoalmente, este foi o programa que mais lembro-me de ver que fosse uma produção original da RTP Açores, adorava-o. Era divertido e para mim o facto do pessoal mostrar aquilo e demonstrarem que tinham bom sentido de humor e permitirem-se gozar consigo próprios era enternecedor! Mostrava um lado humano e cúmplice da RTP Açores para com os seus espectadores, lado esse que desapareceu com os tempos.

No entanto, este programa, que foi o mais marcante a meu nível pessoal criado pela RTP Açores, continua anónimo na minha cabeça! Não me lembro do nome!!! Isto diz muito, muito do que estava a referir-me. A RTP Açores nunca conseguiu, desde a sua existência, ser marcante.

E podia.
E deveria.
Quantos e quantos projectos não devem ter sido postos de lado, quantos morreram na mesa de sugestões, quantas ideias boas e com potencial não devem ter ficado no éter... E não só. Quantos programas que chegaram a ver a sua criação não devem ter sido cancelados prematuramente.

Houve sempre muito receio de arriscar, houve sempre um formato de fazer tv incrivelmente antiquado e desactualizado na RTP Açores, houve sempre muita rigidez na sua programação e formato.
E sei que houve gente lá que lutou desesperadamente para trazer algo novo e original, mas que foram recusados. Sei que as oportunidades foram sempre dadas a alguns dinossauros, e mesmo a esses foram de rédea curta. Sei que existiram funcionários da RTP A. que tinham bem noção de que estavam a criar pouca coisa nova e diferente, mas que nunca tiveram oportunidade de manifestar a sua opinião, de trazer as suas ideias, de limitar-se a cumprir ordens.

Desde a sua existência, houveram más gerências na RTP Açores, houve pouca gente com um pouco de visão para o Futuro, houveram muitos "gravatas" antiquados e nada corajosos. E não houve falta de gente visionária nos Açores ao longo dos tempos, apenas a porta fechou-se lhes na RTP Açores ou apenas abriram uma fresta duma janela para entrar um arzinho.



E isso leva-me à parte que deixa-me muito, muito triste de que agora a RTP Açores irá ser muito menos. Porquê? Se eu achava que tinha sido antiquada e pouco criativa ao longo dos tempos, se eu pouco ou nada via do nosso canal nos últimos tempos, porquê a minha pena?? Porque, meus amigos, um dia haveria em que as coisas mudariam.

Tudo está sujeito a mudanças. Um dia viria alguém com visão, alguém mais moderno, alguém com mais ideias, alguém mais actual. Raios, provavelmente esse alguém já lá está, mas agora está limitado!
Havia sempre em mim essa esperança e essa crença. Tal como os dinossauros foram extintos, um dia viria um cometa trazer um mundo novo à RTP Açores. Seria inevitável.
E não estou a dizer que todos os que lá estão há dezenas de anos devem ser erradicados. É bom que continue a haver gente com mais antiguidade na casa, um canal deve ter símbolos, deve ter referências. Mas, era preciso ter aberto as portas muito mais a gente nova, com ideias, com originalidade, com visão. E, mesmo que demorasse 50 ou 100 anos, inevitavelmente, um dia viria alguém com mais coragem de arriscar, com uma visão mais moderna e actualizada de como fazer boa televisão.

O problema: mesmo que essa pessoa venha ou já lá esteja agora, a redução de carga horária e de verbas do canal, vem limitar gravemente a possibilidade de tornar a RTP Açores em algo melhor. Se já era uma tarefa difícil, agora é quase hercúlea.

Devíamos ter lutado mais pela RTP Açores, gostássemos dela ou não! Um dia as coisas mudariam, um dia ela seria uma excelente montra do que nós, açorianos com talento, criatividade e inteligência, poderíamos fazer! Um dia, poderia vir a ser orgulho de todos nós! Um dia, viria alguém que conseguiria isso ou perto disso, conosco cá ou não.
Até como função pública a RTP Açores falhou: quem visse o nosso canal sem conhecer os açorianos, julgaria que somos um povo antiquado, retrógado. Em parte, é verdade, mas a nossa geração bem sabe que não somos todos assim. E um dia, alguém viria que conseguisse fazer com que a RTP Açores demonstrasse bem isso.

O sentimento nobre e de luta que está havendo pelo Bom Dia, deveria ter vindo antes, pessoal.
A iniciativa é de louvar, sem dúvida! É nobre, sem dúvida. É um exemplo da nossa união enquanto povo açoriano, indiscutível!
Mas vem tarde. Deveria ter vindo mais cedo.



Se tivéssemos todos lutado mais, erguido mais as nossas vozes, unido-nos mais pela nossa televisão, já não teríamos de o estar a fazê-lo agora pelo Bom Dia. E isso é parte do post que farei sobre o "Salvem o Bom Dia Açores". É absolutamente louvável! É a nossa região a lutar por um fim comum! Goste-se ou não se goste do programa, é um excelente exemplo da nossa força e união, do nosso ardor e orgulho açoriano, da nossa garra!
Mas......

Mas, porque não veio isso tudo uns meses antes?
Deveria ter sido assim muito antes. Devíamos ter tido o mesmo ardor antes.
Eu próprio, hipócritamente, escrevo sobre isto agora em vez de ter escrito antes, quando ainda havia tempo de dar mais luta. Havia gente a lutar por isso, a manifestar-se pela RTP Açores, e eu nada escrevi ou falei sobre isso. E, ao ver a onda incrível que o Bom Dia tem levantado, bato-me na cabeça, pois apesar de a RTP Açores ter sido uma oportunidade perdida ao longo dos tempos enquanto montra do que conseguimos fazer e do nosso talento, eu sabia que inevitavelmente alguém mais actual tomaria conta das rédeas um dia, eu deveria ter manifestado-me pela RTP Açores.

Eu consigo ver que venho tarde. Será que todos os que agora lutam pelo Bom Dia, mas não lutaram pela RTP Açores, conseguem pôr a mão na sua consciência e ver isso também?...
Pois...



Mas atenção, continue-se essa luta! Não se baixem os braços sobre esse tema, mesmo que não o fizéssemos antes! Poderá ser tarde demais, mas damos luta na mesma. O Bom Dia provavelmente não morrerá, mas mesmo que sobreviva, não será o mesmo Bom Dia. Mas isso vem noutro post.
Lutemos, pois é nobre e um exemplo de orgulho lutar pelo que é nosso, digo-o sinceramente.

Muita gente tem orgulho desmedido em ser açoriano. Eu não. Vejo muitas mais coisas negativas do que positivas nos Açores. E muito menos tenho de ser português. Perdoem-me, mas estaria a mentir se dissesse o contrário. Mas ataquem-me por isso outro dia que entrar mais em pormenor sobre isso. Mas, quando vejo algo positivo, algo louvável, então aí orgulho-me da nossa gente, sim, e dou o mérito devido. Exponho até, se possível.



Devíamos todos ter lutado mais pela RTP Açores, eu inclusive. Devíamos ter mostrado esse ardor antes, e agora, talvez já não teria sido preciso lutar pelo Bom Dia. Um dia, a luta teria valido a pena, nem que víssemos esses frutos daqui a 100 anos. Tenhamos ou não ódio pelos que lá estiveram durante anos como parasitas a chupar a vida da RTP Açores, gostássemos ou não do que era feito naquele canal, víssemos com maus olhos muitos que lá andam ou não, deveríamos ter lutado por ela. A casa não tem culpa de alguns moradores que teve e tem. E há muito boa gente por lá ainda, que merecia que tivéssemos lutado mais. Eu próprio sou próximo de uma destas pessoas que mereciam o nosso apoio, a nossa luta.
De novo, um dia os frutos viriam, mesmo que tardassem a chegar. Poderíamos ter um canal, o NOSSO canal, que fosse uma melhor montra do que somos. Do nosso talento, criatividade, espírito e inteligência, mais moderno, mais actual, mais original, mais criativo.
Agora, reduziram-nos muito a possibilidade de concretizar esse ideal positivo para a RTP Açores com o corte de horas e fundos.

Se ainda é possível a RTP Açores ser algo em que todos podemos ter orgulho em ter? Sim, é possível, mas tornou-se montanhas mais difícil.
Entrou gente nova, gente boa, gente diferente e criativa. Quem sabe poderiam ser estes a fazer a diferença? Quem sabe são?

Mas, a torre agora não é apenas algo alta. É colossal. E nós, todos nós, deveríamos ter impedido, quando devíamos e podíamos, que acrescentassem mais andares a esta torre.

Irónico como o nome de um programa da RTP Açores seja agora adequada para descrevê-la: Mau tempo no canal. E a culpa, é muito nossa. Nós todos, mesmo. A começar por mim, se preferirem.


1 comentário:

  1. O "Alta Pressão" e o "Estação de Serviço" são dois programas bons e aos quais vale a pena dar a oportunidade de evoluir e crescer.
    E também houve um programa "35 Anos 35 Freguesias"
    muito fixe.
    Quanto á redução de horário. Se as previstas 4 horas de emissão forem bém aproveitadas, e canalisadas para a qualidade e "serviço publico geral"*, penso até que pode ser uma oportunidade de reformulação e evolução. O problema é que associado a esse corte de horas haverão certamente despedimentos.

    *Os senhores das TV's (menos o Pedro MOura) e dos jornais, esquecem-se sempre da maioria do seu publico. Os analfabetos, os menos literados e até de muita gente como eu próprio, que mesmo tendo uma educação e cultura geral médias, na maioria das vezes só percebo as noticias das pancadarias, do futebol e aquelas para descomprimir no fim dos noticiários.
    Nem todos estivemos na universidade ou pertecemos a grupos intelectuais que entendem de tudo desde a politica á economia e literatura.
    Façam noticia e falem com uma linguagem corrente e perceptível.
    Quando a alfebetização for de 100%, e todos os cidadãos tratados por igual, então ai falem como vos apetecer, porque ai, poderemos escolher ouvir-vos ou não.

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